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  • Foto do escritorBatista de Lima

A Pátria lá de nós


Batista de Lima


Parece senso comum que desfile de 7 de setembro tem que ser feito por militares ou estudantes. Cada vez menos estudantes estão desfilando. No Dia da Pátria, a preferência está sendo o desfile na praia, de calção ou biquíni, e, às vezes, futebol. Por que as pessoas comuns não fazem seus desfiles patrióticos? Será o desencanto com o comportamento dos nossos políticos? O desfile poderia ser feito por pessoas comuns com bandeiras do Brasil, de associações, ou times de preferência. Seria o povo nas ruas com orgulho de brasilidade.

Isso nos remete às exceções que às vezes surgem. Pois não é que lá em nós, ao sopé da Serra das Almécegas, fronteiro ao morro do Cruzeiro, a população foi à rua. Rua não, porque lá não há rua. É uma ribeira com muitas casas em pequenas propriedades que se perfilam sonolentas à beira da estradinha de terra. Pois ali ocorreu o desfile da pátria. A população foi aos caminhos, cantou, desfilou, pintou-se de Brasil por dentro e por fora e deu exemplo a muita gente.

Foi no dia 6, no sábado. Mais de 100 pessoas fizeram seu desfile. Levaram uma banda da cidade de Cedro, a 25 quilômetros dali, arranjaram faixas, banners, vestiram as melhores roupas e desfilaram pelos dois quilômetros do sítio que se chama Taquari. Ali eles nasceram, inclusive este escriba, que perdeu o evento, mas no próximo ano por lá estará na ocasião, vestido de verde e amarelo e cantando o que for entoado.

Segundo as redes sociais, em especial o "Face", que veio cheio de selfies e imagens panorâmicas, a coisa foi muito empolgante. A organizadora principal, Socorro Canuto, nascida e criada lá, conseguiu até ajuda do Oratório Salesiano Madre Mazzarello, que ajudou no patrocínio e emprestou imagens que fizeram parte do desfile. Afinal, houve uma mesclagem de patriotismo com religiosidade, o que colaborou para uma maior seriedade no desfile.

No momento em que as imagens escorreram pelas redes, surgiram os lamentos dos que não foram, por não saberem com antecedência, mas surgiram as promessas da participação no próximo ano. Tudo indica que dobrará o número de participantes. Isso não é novidade na nossa terra. Próximo dali, em Várzea Alegre, 20 quilômetros depois, dois sítios possuem escolas de samba que talvez nem a Capital possua igual: Unidos do Roçado de Dentro e Mocidade Independente do Sanharol.

Um pouco mais adiante, em Iguatu, vive-se o melhor natal do Ceará. Já é tradição por lá, transformar a cidade numa lapinha agigantada. Se for mais para o Sul, chega-se a Juazeiro do Norte, aí não é preciso dizer que uma das maiores romarias do Brasil ali se realiza. Daí que a comemoração singela feita lá no sítio Taquari é mais uma manifestação popular espontânea, que vai entrar no calendário cultural de Lavras de Mangabeira. Afinal, naquele sítio, já se realiza todo ano a Festa da Poesia Popular, organizada pelo poeta Vicente Lemos, também da terra.

Se partirmos para eventos religiosos, basta dizer que todo ano, no dia 31 de maio, aquela população faz procissão em busca do Cruzeiro que fica no cume da montanha mais alta da região. É uma forma de chegar mais perto de Deus. Essa romaria existe desde 1942, produto de um sitiante nosso ancestral de nome José Batista Lima. Há ainda as nove noites de novenas de Santa Luzia, da família Moura, e as renovações que ocorrem em cada casa, na ocasião do aniversário de casamento dos casais.

Essa iniciativa de Socorro Canuto, secundada pelo presidente da Associação Comunitária, José da Ponte, e pelas professoras Delfina Batista e Joana de Oliveira Lima, só merece aplauso. Patriotismo e religiosidade ali se mesclam. A Pátria é saudada, no seu dia, da forma mais sublime. Não são soldados nem estudantes em ruas asfaltadas da Capital. É o povo na sua espontaneidade, desfilando pelos caminhos que construiu, cantando hinos da pátria e cânticos religiosos. Jovens, trabalhadores do campo, donas de casa e crianças, dando um exemplo para o Brasil de como ser brasileiro e patriota.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 07/10/14.


 

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