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A poesia social de Wellington Alves

Batista de Lima


Wellington Alves adolesceu socialista nas ruas do Crato. Basta esse item de sua trajetória de vida para defini-lo como um bem nascido, daquela cidade aristocrática, que optou pelas causas sociais, enquanto sua geração de amigos se quedava enfeitiçada com os requebros do iê-iê-iê no Crato Tênis Clube.

Para mais cuidar do outro, optou por cursar medicina e mergulhar nos abismos humanos através da psiquiatria. Era preciso, no entanto, fazer a terapia de si próprio, e o caminho foi o verso da poesia lírica, como catarse de suas estranhezas d'alma.

Wellington Alves se conhece muito bem e esse foi o passo para conhecer os outros, o que o levou a incorporar muitas dores do mundo. Foi daí que surgiu sua opção pelos desvalidos e injustiçados. Essa opção o levou a sofrer duras perseguições políticas do regime militar, culminando até com a prisão e cerceamento de muitos dos seus direitos. A poesia o salvou.

Daí ele afirmar: "Exorcizei minhas descrenças". Isso prova que o tom confessional o acompanhará ao longo das suas criações. Antes de tudo, porém, é preciso que se diga ser esse poeta um leitor compulsivo.

Entre as suas obras, destaca-se "Inventário de Poesias", de 2011. Esse livro vem com o aval de Telma Brilhante, na Apresentação e com o Prefácio de Dimas Macedo. Nesse livro, o poeta, através do eu lírico, não consegue transpor incólume um certo estado de angústia, talvez consequência da maturidade.

Mesmo assim ele estira a mão a um misticismo que bate de frente com o existencialismo de formação que o acompanha há tempos. Seus tempos de exílio em Paris o tornaram cético de alguns apetrechos românticos que a província caririense conserva.

Viveu na França quando mais festa era Paris. Era uma festa intelectual numa cidade luz repleta de exilados das ditaduras latinoamericanas. Mesmo assim, seu grande amor primeiro não foram as luzes da cidade intelectual nem o "Cratinho de açúcar, tijolo de buriti".

Seu amor, sua musa foi sempre Fátima Lemos a quem muitas de suas criações são dedicadas. Wellington Alves é um idealista. Do Crato, passando por Recife e Paris, como estudante, e por Fortaleza, no exercício da profissão, tem vivido montado em sonhos, inspirado por musas e enfeitiçado por quimeras.

Em 1996 quando lançou "Baú de momentos", Wellington estava no auge de sua atividade gregária. Sempre se destacando como forte liderança entre os próximos, nessa época estava como presidente da SOBRAMES, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.

Já vinha também trazendo na bagagem, a criação da AFAC, Associação de Filhos e Amigos do Crato. Também já estava como membro do Instituto Cultural do Cariri, e tendo fundado, na época, a Academia Caririense de Letras. Esse espírito empreendedor de Wellington Alves, torna-o figura de destaque no mundo cultural da Região do Cariri e por outras plagas em que tem atuado, como Fortaleza, inclusive.

Suas poesias são de conotação social, mas intercaladas de poemas em que o eu lírico vem carregado de uma certa angústia, em alguns momentos e noutros com um erotismo disfarçado. Seu poema "Sobrevivente" patenteia essa angústia, enquanto "Da carência e do erotismo" é um canto de louvor ao erotismo.

O fato de ser um perseguido político, exilado e prejudicado profissionalmente na sua carreira de bancário foi tão marcante no seu existir que tinha que desembocar em um texto marcado pela angústia.

Além dessas temáticas citadas, é visível, em alguns momentos, sua preocupação metapoética. "A poesia hoje me visita / - Sem muita prosa - / Meio sem jeito / amplificando a eterna timidez / Do meu passo / Do meu jeito". Além disso, há sua musa especial que é a eterna namorada Fátima Lemos. As décadas desse casamento, coroado com seus filhos amados levam o poeta, vez por outra, a renovar declarações de amor desde o oferecimento de alguns de seus livros.

Esses livros apresentam um crescer da qualidade à proporção que vão aparecendo. Desde "Momento de tempo", de 1981, nota-se uma consistência estilística que se acentua em "Outros momentos", de 1984.

O mais amoroso pode ser considerado "Nossos momentos", de 1988, oferecido a sua Fátima, a quem deve a eternização da esperança. O existencial começa a transparecer em "Baú de momentos", de 1996 e se completa com a coletânea de 2011, que traz como título "Inventário de poesias". Esse conjunto de obras, marcado por um lirismo às vezes namorador, com sua fala reveladora dos abismos do poeta, apresentam um Wellington Alves se lançando numa catarse corajosa de que só os bons poetas são possuidores.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 25/03/14.


 

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