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A Missão de Joaca

Batista de Lima

Missão Nova é mais antiga que Missão Velha. Isso aprendia-se quando menino. E tem mais, mesmo sendo mais antiga, a Missão Nova é o distrito e a Missão Velha é a sede do município. Não se pode, no entanto, falar em Missão Nova, sem citar a figura de Joaca Rolim. Seu nome completo é Joaquim Félix Rolim. Seu nascimento se deu no dia 14 de maio de 1898, em Felizardo Vieira, hoje distrito de Ipaumirim. À época de seu nascimento, Felizardo Vieira se chamava Olho D'água do Melão. Joaca era filho de Félix Antônio e Josefa Rolim de Albuquerque.

Em 1913, ano de seca, Joaca, aos 15 anos, deixou Olho D'água e foi morar em Missão Nova. Ali começou a trabalhar como cambiteiro de cana do engenho de um tio. Era trabalho dos mais cansativos da moagem, transportar canas, em burros, do sítio até ao engenho. Mesmo assim, nos momentos de folga, ia estudar com um professor do lugar. Com sua inteligência privilegiada, aliada a uma destacável força de vontade, passou de cambiteiro a pedreiro, mas foi também seleiro, carpinteiro, sapateiro, fornalheiro e, principalmente, agricultor. Tornou-se senhor de terras, proprietário de engenho, dos maiores da região, político, profeta de chuva e poeta popular.

De pedreiro passou a mestre de obra e, em seguida, a construtor de grandes obras. Construiu várias casas, o que culminou com a construção da Igreja de Missão Nova, feita em alvenaria, com arcos, sem a utilização do concreto armado. Os seis altares dessa igreja foram trabalhados a mão e o aspecto exterior é nos moldes da Basílica de São Pedro, em Roma. Essa sua primeira grande construção, que se estendeu de 1928 a 1933, foi seu trampolim para empreendimentos ainda maiores. Em torno dos trinta anos de idade Joaca Rolim ficou famoso pelos seus conhecimentos de construtor e foi por isso contratado para construir a Igreja da Cidade de Milagres.

Considero, entretanto, que seu maior empreendimento arquitetônico tenha sido a construção do Colégio Santa Tereza, no Crato. Aquela casa de ensino religioso para moças de famílias importantes do Cariri e regiões vizinhas ergue-se ainda hoje majestosa como um dos pontos turísticos do Crato. Por conta disso tudo, Joaca Rolim teve seu talento reconhecido até pelo Governo Federal, o que levou o Presidente Getúlio Vargas a lhe conceder o título honorífico de Engenheiro Prático. Sua memória está escrita, pois, nessas três grandes construções que edificou, além de numerosas casas que construiu por todo o Cariri. Homem honesto nos seus negócios e generoso nas suas ações, muito já se registrou em sua homenagem.

É por isso que nas redes sociais há sites e blogs contendo históricos de Joaca. Afinal, muitas atividades desempenhou com mestria. Foi chefe político, vereador duas vezes, juiz de paz, fazendeiro bem sucedido, dono de engenho. Como poeta popular deixou composições de bela feitura, como o cordel "O menino perdido", escrito em 1945, e até hoje divulgado com sucesso. São 62 estrofes de seis versos, em redondilha maior, com rimas nos versos pares, contando a história de um menino que se perdeu dos pais e só foi encontrado três dias depois, no matagal. O fato verídico aconteceu no seu povoado de origem, Olho D'água do Melão, e ainda hoje é relembrado por conta do seu registro poético.

Além disso há aqueles trabalhos escritos, filmados e gravados, feitos por pessoas que o admiravam. Seus descendentes filmaram as comemorações de seus 90 anos e transformaram em vídeo posto nas redes sociais. Seu sobrinho Aldeísio Nery Vieira compôs cordel de bela feitura, narrando sua trajetória de vida e fazendo apologia de seus familiares. Seus onze filhos, três homens e oito mulheres, hoje constituem famílias bem postas na sociedade, com seus cursos superiores, seus empregos de destaque e seus descendentes bem encaminhados na vida. Todos seguiram o exemplo do patriarca Joaca.

Joaca Rolim como proprietário de engenho iniciou-se na lida das moagens, utilizando bois para mover almanjarras e moendas. Depois evoluiu para uma caldeira a lenha e terminou utilizando potente motor a óleo. Como criador de gado chegou a possuir quatro grandes propriedades, entre elas, Canabrava, Canta Galo e Covão. Sua esposa Antônia Caldas Rolim o acompanhou em todos os momentos dessa lida exemplar. Respaldou-lhe na administração do patrimônio, e no fraterno convívio com mais de seis dezenas de trabalhadores e agregados que lhe serviam.

Os descendentes de Joaca, seguindo o exemplo empreendedor do patriarca, mantiveram seus bens e criaram uma fundação, Casa de Joaca Rolim, em que a memória do fazendeiro é preservada. É tanto que todos os anos a família inteira se reúne por três dias, no mês de janeiro, em confraternização em torno de seu legado memorial. Como profeta de chuva, respeitado em toda a região, deixou opúsculo escrito em que descreve todas as suas experiências em torno de previsões de invernos. Por tudo isso, Joaca Rolim se tornou um exemplo de superação para gerações de descendentes e admiradores. A missão de Joaca, pois, não foi apenas a Missão Nova, mas a lição para todos que o conheceram, de que temos uma missão nessa terra, cumpre-nos, pois, executá-la bem, como o fez Joaquim Félix Rolim.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 28/04/15.


 

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