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A libertação de Madalena

Batista de Lima



Madalena era um distrito de Quixeramobim, encravado na região Centro Sul do Ceará. Essa condição de dependência perdurou até o momento em que a população se mobilizou e conseguiu a sua transformação em cidade. Para tanto foi de muita importância a conscientização daquela gente por parte do segmento jovem da população. Foi um movimento político da juventude que conseguiu passar Madalena a cidade. Entre esses jovens estava Edileusa Magalhães, que depois de ver seu sonho se realizar, teve a frustração de observar os rumos tomados pela administração da nova cidade. Heróis sem nenhum compromisso social e forjados na ambição política começaram a tentar mudar o fato histórico em detrimento dos reais batalhadores pela causa libertária. Para que tudo fique claro, a professora Edileusa escreveu essa história com o veredicto de quem participou ativamente das demarches libertárias. Essa sua atitude é a reocupação de um patrimônio temático que ajudou a construir mas que poderia correr o risco de ser utilizado por alguns vivaldinos. Essa é pois a segunda libertação de Madalena. O texto de Edileusa descreve com minudência toda a trajetória da organização política que levou à independência da cidade. Essa escrita vem recheada de letras de músicas e epígrafes de autores clássicos. Edileusa está com esse livro, conseguindo a segunda emancipação de seu torrão natal. É uma narrativa recheada de dados históricos e estatísticos mas também é uma saga memorialística tão bem escrita que há momentos em que Madalena como personagem central do enredo toma ares de jovem, e é como se fosse uma pessoa do grupo que lutou pela libertação. A idéia de libertação da pequena cidade germinou a partir de uma viagem de estudantes a Campos do Jordão, que serviu de inspiração para o slogan "Madalena cidade". Foi numa temperatura de oito graus, que esquentou a idéia de liberdade para Madalena. Um sonho feliz de cidade é o título encontrado pela autora para seu livro. Esse sonho foi se concretizando a partir do momento em que esses jovens percorreram os cinco bairros do distrito, fazendo sua pregação de liberdade, de casa em casa. Interessante é que os que se empenharam na mobilização pela liberdade foram logo apelidados pela situação, de "esquerda festiva". Essa situação, por sua vez, foi apelidada pelos batalhadores, de "direita fúnebre". Como se vê, houve uma divisão de forças, sendo que o bloco dos libertadores aumentava a cada reunião. Essa luta descrita pela professora Edileusa, além dos dados estatísticos que são apresentados, transformam o livro em um documento histórico para quem quiser conhecer a memória de Madalena. É esse tratamento dado à escritura que enfatiza o lado didático da obra, tornando-a leitura indispensável nas escolas de ensino fundamental e médio da cidade. É preciso que o estudante de Madalena conheça a história de sua cidade, a geografia, seus filhos ilustres, a árvore genealógica de cada família, as personalidades que deram nomes às ruas, inclusive a biografia da própria autora deste importante livro. Madalena poderia possuir uma rua com o nome de "Nove de março". O dia nove de março de 1985 ficou marcado pela manifestação ocorrida na Praça Salviano de Pinho. A população deu provas de que estava mobilizada e conscientizada e que a campanha tinha alcançado um estágio de amadurecimento a ponto de conseguir arregimentar, para aquela ocasião, vários deputados da Assembléia Legislativa, além de lideranças políticas da região, simpáticas à emancipação da futura cidade. Mas o importante desse dia foi a participação popular, com milhares de pessoas se postando em praça pública em nome da causa emancipatória. Outro dia importante para Madalena foi o 6 de outubro de 1985, quando se realizou o plebiscito. 1.874 eleitores disseram SIM pela independência e 47 disseram NÃO. Acontece que esse resultado não foi suficientemente legal para que os sonhos de libertação se tornassem realidade, afinal o universo dos votantes ultrapassava a cifra dos 4.000 eleitores. Foi então que os aguerridos libertários entraram com recurso, mostrando as irregularidades do plebiscito e contando a partir de então com a ajuda jurídica e espiritual do vigário Padre Pedro Paulo. Finalmente o município de Madalena foi instalado em 1º de janeiro de 1989, tendo como primeiro prefeito Raimundo Andrade Morais. Madalena finalmente era cidade. Na terceira administração as pessoas que se mobilizaram para a emancipação e foram alijadas do processo administrativo na nova cidade, se organizaram e criaram um novo movimento que se denominou "Frente pela Mudança". Esse movimento não conseguiu tantos frutos como o primeiro mas assistiu ao assentamento do MST na região e acompanhou esse processo como forma instrutiva e de amadurecimento para outros embates. Assim é que a nova administração foi resultado da vitória da oposição acompanhada pelo povo insatisfeito com as administrações de até então. Por fim chega-se ao final da leitura do livro da professora Edileusa com o ganho de se conhecer a luta para a emancipação de um distrito para cidade. Depois há o fato de se ficar conhecendo a cidade de Madalena através da sua história gravada em livro. Que outras cidades tenham a mesma sorte de possuir uma Edileusa para contar suas glórias.

 

18/08/2009.

 

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