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A leitura dos clássicos

Batista de Lima




Pesquisa feita recentemente, entre alunos do oitavo ano do ensino fundamental de 561 escolas públicas de São Paulo, apontou a preferência daqueles jovens pela leitura de narrativas fantásticas. O encantamento que lhes provocam essas narrativas não se origina de leituras anteriores, mas principalmente da subjetividade que emana das mídias audiovisuais a que têm acesso. Destaque-se a influência das animações, em que os heróis são marcados por uma aura fantástica.

O grande desafio, no entanto, é fazer com que o estudante dê um intervalo nessas suas mídias e leia um clássico que rompeu a corrosão dos tempos e sobrevive ainda com certa atualidade. Talvez o primeiro passo seja despertar no jovem o apetite para consumir textos. Através da interdisciplinaridade, pode-se conseguir que ele, em vez de se debruçar abruptamente sobre a história russa, por exemplo, comece lendo "Guerra e Paz", de Tolstoi. Em vez de ler diretamente sobre guerras de capa e espada, ele pode se iniciar na leitura de "Dom Quixote", de Cervantes.

Mesmo assim é difícil fazer com que ele trafegue na sua leitura por aqueles calhamaços de páginas escritas. Essa dificuldade decorre do apelo dos meios de comunicação e de tantas tecnologias inovadoras que transportam o receptor para as mais inusitadas situações. Há excesso de oferta. O mundo tornou-se numa grande feira em que tudo está ao alcance das mãos, quando se mergulha no universo das comunicações. Assim fica difícil para os pais e professores tornar um livro como algo atraente para o educando.

Há estratégias para uma aproximação dos clássicos. Uma delas é a comparação de livros mais atuais com outros mais antigos que são afins. Se não funcionar a contento, é partir para filmes históricos, novelas ou vídeos que tratam dos clássicos. Um estudante que assiste ao filme "Troia" pode se entusiasmar para ler, pelo menos, partes da "Ilíada", de Homero. Da mesma forma, assistindo aos clássicos da Metro, que tratam de episódios da história de Roma, ele pode chegar a ler Suetônio e Tito Lívio. Importante é despertar-lhe a curiosidade para ir em frente.

Quando se leem os clássicos, há como que um tomar posse de situações que ainda hoje ocorrem. Um exemplo é a tragédia "Édipo Rei", de Sófocles. O que aconteceu entre o herói e sua mãe Jocasta pode ser transmutado para situações atuais. E, guardando as devidas proporções, para o leitor que está envolvido com sua leitura. "Lisístrata", de Aristófanes, dá um exemplo de feminismo posto em prática muitos anos antes de Cristo. É tanto que pode ser até comparada, essa comédia, com "Tereza Batista cansada de guerra", de Jorge Amado.

Nessa luta para se conseguir leitor, há, no entanto, quem condene as adaptações de textos originais. Ora, se outras mídias fazem essas adaptações, como principalmente o cinema, não se pode negar o valor que elas carregam. É uma forma de leitores mais jovens começarem suas leituras. É uma leitura sobre outra já feita. É um prazer sobre um prazer já acontecido, mas vale pela possibilidade de navegar pelos originais. Ele pode chegar à mitologia grega e, a partir dela, vasculhar na atualidade quais são as personalidades míticas.

O jovem leitor tem resistência ao que é antigo porque trouxe o futuro para o presente. Essa ideia de que o futuro é agora é trágica para ele. O futuro está no futuro. O agora é um presente que precisa ser um somatório de passado e futuro. É preciso que o estudante conheça também o senso comum antes de se apoiar apenas no conhecimento científico. Por isso que pais e professores precisam cada vez mais de criatividade para levar o jovem à leitura. Se ele tomar gosto pela leitura de livros atuais, pode chegar a ler os clássicos. Se ele conseguir, por exemplo, ler "O guarani", de José de Alencar, pode ler com facilidade a história do dilúvio que ocorre no "Livro do Gênesis", da Bíblia.

A questão que se discute é como atingir os novos leitores. Para isso vale a criatividade. Primeiro priorizar a narrativa. Uma história conforta o espírito. A contação de histórias para crianças é o princípio de tudo. Depois vem a interpretação de situações mais chamativas. Essas interpretações podem ser gravadas ou filmadas. Afinal, hoje, o estudante geralmente divide o corpo em cabeça, tronco, membros e celular. O celular é uma máquina cinematográfica. Eles podem portanto gravar pequenos vídeos de situações interpretadas em sala de aula. Para isso vão recorrer a pequenos roteiros ou passagens já escritas nos textos. O importante é que as estratégias sejam levadas para a leitura. Até a história geral pode ser um passo para a ficção. Nesse caso retornar a um passado é dar um passo à frente.


FONTE: Diário do Nordeste - 31/07/2018.


 

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