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A biografia de Parsifal Barroso

Batista de Lima




Parsifal Barroso foi Governador do Ceará de 1959 a 1963. Esse item da sua biografia seria suficiente para contemplar centenas de páginas de quem quisesse biografá-lo por completo. Acontece que ele foi também Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador e Ministro do Trabalho. Além disso foi professor universitário e escritor. Daí a ousadia do jornalista e professor Luís Sérgio Santos em escrever a biografia desse cearense a quem muito deve o Ceará. Mas escreveu. Agora temos o livro "Parsifal: um intelectual na política". São 463 páginas da Editora Escrituras, em parceria com o Instituto Myra Eliane, dirigido por Igor Queiroz Barroso. Pode ser considerado como o mais alentado levantamento biográfico produzido no Ceará em 2017. Mesmo assim pode-se dizer que mais poder-se-á escrever sobre a personalidade Parsifal.

Por ser um homem público, muitos detalhes de sua vida já são conhecidos do leitor. Por isso a gente lê o livro no afã de descobrir detalhes não conhecidos. Começa com o fato do nome Parsifal ser o primeiro surgido no Brasil. É que seu pai Hermínio Barroso teve parte de sua formação adquirida na Alemanha, onde estudou por cinco anos. Amante da música clássica, a ponto de estudar violoncelo e se tornar virtuose nesse instrumento, Hermínio adorava as composições de Wagner, principalmente a Ópera "Parsifal". Daí que prometeu a si próprio que um de seus filhos teria que ter esse nome, o que recaiu sobre a figura do nosso futuro Governador do Ceará.

Da mesma forma, Parsifal colocou o nome de sua filha caçula, de Siglinda, personagem da ópera "A Cavalgada das Valquírias", de Richard Wagner. Significa que o filho de Hermínio Barroso continuou com o mesmo gosto do pai, educando também os filhos no gosto refinado dos clássicos. O mesmo não se pode dizer com relação à política. Apenas Régis Barroso, seu segundo filho teve um mandato de Deputado Federal, mas muito mais por conta do impedimento do pai em se candidatar. Os filhos de Parsifal, portanto, tomaram outros rumos na vida, todos se destacando nas profissões que abraçaram.

Parsifal era também professor. Ensinou em várias instituições de ensino de Fortaleza, do antigo curso ginasial à Universidade Federal do Ceará. Ainda hoje alguns de seus ex-alunos lembram a seriedade com que sua docência era encarada. Inclusive, mesmo como governador, ele não se afastou da sala de aula. E foi exatamente ministrando aulas no colégio Imaculada Conceição que ele iniciou sua amizade com Olga Monte Barroso. Filha única do Coronel Chico Monte, de Sobral, Olga foi fundamental na sua trajetória política. Afinal, sua experiência nas lutas políticas na Princesa do Norte viria a acrescentar substancial ajuda na carreira política do marido.

Além de político e professor, Parsifal Barroso também foi escritor. É nesse momento que o biógrafo Luís Sérgio Santos analisa cada uma das obras do biografado. São resenhas feitas com zelo e com a prática jornalística do autor que por muitos anos militou em redações de jornais. Começa com "O Cearense", a obra prima do ex-Ministro do Trabalho, do governo Juscelino. Esse livro de Parsifal, inspirado em palestra de Gilberto Freyre, traz novidades com relação à formação do povo cearense, mas também com relação à formação física do nosso relevo. A teoria da ferradura é perfeitamente aceita, tendo em vista que o Ceará é cercado por três grandes muralhas: Ibiapaba, Apodi e Araripe.

Além dessa sua obra prima, Parsifal escreveu ainda: "As teorias de Geber", 1930; "Pedro, nosso irmão", 1950; "Na casa do Barão de Studart", 1969; "Um francês cearense", 1973. Essa sua produção em livros o conduziu a ingressar no Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará. Para tanto, valeu seu conhecimento sobre o Ceará e a sua produção científica. Também, como deixou inéditos vários trabalhos, teve, organizado por sua esposa, Olga Barroso, publicada postumamente, a obra "Vivências Políticas". Todos esses trabalhos, publicados por Parsifal, foram lidos, resenhados pelo biógrafo Luís Sérgio Santos. Esses assuntos não aparecem em ordem cronológica, mas seguindo um direcionamento que prende a atenção do leitor.

Segundo seu biógrafo, Parsifal Barroso era um político negociador. Como Ministro do Trabalho, do Presidente Juscelino, enfrentou várias greves de trabalhadores, sempre chegando a bom termo, após exaustivas negociações. Também, quando enfrentava questões da política estadual era exímio nas suas soluções. Prova disso é que venceu Virgílio Távora, em acirrada disputa para Governador do Ceará, em 1958. Logo na eleição seguinte, ainda como Governador, estava Parsifal, organizando a União pelo Ceará, colocando Virgílio Távora como o candidato para substituí-lo. Virgílio eleito, houve a constatação de algo quase impossível, unir PSD e UDN em um mesmo palanque, lutando pelo mesmo candidato.

Após a leitura desse livro de Luís Sérgio Santos, o leitor passa a admirar a personalidade que foi Parsifal Barroso. Conciliador, religioso, excelente orador, esse Governador era antes de tudo um grande amante do seu Ceará. Como Governador enfrentou secas, inundações e grandes questões políticas, saindo delas incólume. Daí que, com todas essas qualidades e agora tendo um bom biógrafo para retratá-lo, só resta a leitura do livro, por aqueles que o conheceram, por seus antigos eleitores e pelas novas gerações. Sua história de vida se confunde com a história do Ceará. Esse é o lado didático da obra que precisa ser colocada ao alcance dos estudantes de hoje. Afinal, a história continua sendo a grande mestra da vida.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 21/08/2018.


 

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