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  • Foto do escritorBatista de Lima




O nome completo dele é José Ricardo Brígido de Moura, nascido em 22 de outubro de 1955, na casa 46, da Vila Romero, no Centro de Fortaleza. Sua mãe foi assistida pela parteira Dona Chaguinha, torcedora fervorosa do Ceará Sporting Clube, conhecida na cidade inteira por estas duas facetas particulares. Em abril de 1960, seu pai Nélson, fotógrafo profissional, foi a Brasília e por lá morreu precocemente. Sua mãe, então, ficou viúva tão cedo, com vários filhos para criar. Foi então que o Reitor Martins Filho, da UFC, arranjou-lhe emprego no MAUC, Museu de Artes da Universidade do Ceará, em que ficou até aposentar-se.


Os primeiros estudos foram realizados numa escola púbica municipal que ficava na Cidade da Criança e que depois receberia o nome de Alba Frota. Era o ano de 1961 e Ricardo contava apenas com cinco anos. Já em 1962 houve mudança para o Colégio Salesiano Dom Bosco, no bairro Joaquim Távora. Sua singela narrativa dá conta de que um dos seus divertimentos na época era colecionar cédulas improvisadas, produzidas de invólucros de carteiras de cigarro. É bom saber, então, através dessa lembrança, quais os cigarros consumidos na época na cidade: Fio de Ouro, Colombo, Jockey Club, Mistura Fina, Luís XV e Lincoln. Os cigarros estrangeiros eram: Winston, Paul Mall, Salem, Peter Stuyversant e Gauloises Caporal.


Em capítulo especial, Ricardo refere-se ao seu terceiro colégio, no caso, o Lourenço Filho, em 1963. São interessantes suas referências ao diretor, educador e escritor Filgueiras Lima, imortal da Academia Cearense de Letras, nascido em Lavras da Mangabeira e tornado o primeiro presidente do Conselho Estadual de Educação. A essa altura do texto, nosso estudante cita sua professora, adorável criatura, no seu dizer, Maria Luiza Bonfim, escritora, acadêmica e cantora que ainda hoje nos impressiona com suas interpretações em eventos culturais da cidade.


Dona Aglaís, a mãe de nosso memorialista, é uma heroína diante das intempéries que enfrentou sozinha para conseguir a criação e educação dos filhos. E que filhos educados! Foram ocupando seus espaços e todos os empecilhos da vida foram sendo vencidos. Cada espaço conquistado era valorizado com galhardia. O Colégio Lourenço Filho foi marcante para Ricardo. É tanto que no livro constam os nomes de seus colegas de turma, inclusive com fotografia além da citação do nome de seus professores. Também há a valorização familiar a ponto de ser elaborada uma genealogia dos seus ancestrais, escavando em décadas longínquas seus mais antigos parentes.


Nesse seu mergulho em busca de suas remotas origens, nosso memorialista chegou a Melgaço, no Pará. Essa viagem não foi a única, porque também chegou a ir à Europa no seu itinerário arqueológico. Também vasculhou, em passado recente, os parentes de destaque que fizeram história no Ceará. É tanto que chegou a João Brígido, destemido jornalista cearense, fundador do jornal Unitário, que circulou por décadas no Ceará. João Brígido foi Senador, Deputado, representando com destemor os interesses do Ceará. Na Padaria Espiritual, seu parente e escritor José Maria Brígido se fez presente com o codinome José Marbri.


Telúrio de raíz, Ricardo não esquece de vasculhar o seu lugar de nascença. A Vila Romero surgiu por volta de 1935, quando o comerciante José Romero de Barros, natural de Itapipoca, comprou da família Sombra Sampaio, a área em que começou a construir as casas da futura vila. Vizinha do Parque da Criança, os meninos daquela vila, tinham o Parque como local de lazer e de estudos, já que ali estava a escola modelar da Prefeitura da Capital Cearense. Até zoológico existia naquele logradouro que era dirigido pelo famoso diretor Onélio Porto. Havia ali os mais variados animais da fauna brasileira.


Ricardo, na sua escrita, não se baseia apenas na visão particular do seu mundo. Prova é que como curioso pesquisador foi buscar em Gustavo Barroso no seu livro Coração de Menino, a visão desse famoso escritor cearense, nas descrições que aparecem no seu livro memorial sobre a Fortaleza de 1900. Também imitando aquele eminente cearense, Ricardo mostra suas memórias de menino numa Fortaleza meio século depois. Até memórias do futebol, esse novel historiador vai pondo na sua história. São craques que frequentavam os rachas do campinho perto de sua casa. Sua memória ainda guarda o nome de cada um e alguns de seus caracteres.


Quando trata da radiofonia cearense, traz à tona os momentos áureos da Ceará Rádio Club, a Pioneira, chamada popularmente de “Perrenove”. Nos anos 50 e 60 ele nos leva a conhecer os radialistas da época: Wilson Machado, João Ramos, Aderson Brás, Eduardo Campos, Neide Maia e Narcélio Limaverde. Além de ouvir esses astros do rádio, os garotos já começavam a moldar o cabelo com brilhantina, flertar com as garotas da mesma idade, frequentar as quermesses da Igreja do Coração de Jesus e participar dos primeiros bailes de carnaval. Os banhos de chuva foram trocados pelos banhos de mar em que o bronzeado dava um charme especial aos olhos das garotas.

Capítulo especial do livro fica por conta da homenagem a Dona Aglaís, mais precisamente Maria Aglaís de Albuquerque Brígido Maia. Nascida em Quixadá, em 1925, morou em várias localidades por onde passava o trem, pois seu pai era agente na RVC. Entre suas principais lembranças estava a vivência em Juazeiro do Norte em que chegou a conhecer o Padre Cícero Romão Batista. Também Aglaís recordava-se muito do Museu de Artes da Universidade Federal do Ceará em que por 20 anos conviveu ali com artistas como: Zenon Barreto, Zé Fernandes, Nearco Araújo, Descartes Gadelha, Estrigas, Carybé e Henrique Barroso. Tudo isso, sem esquecer a Vila Romero em que morou durante 32 anos.

Desde cedo Ricardo tomou gosto pela leitura, tornando-se assíduo frequentador da Biblioteca Dolor Barreira que funcionava na Cidade da Criança. Ali teve contato com as principais enciclopédias da época, bem como de livros famosos de Stefan Zweig e Coelho Neto, entre outros. Com o passar dos anos, se viu frente a frente com os estudos preparatórios para o vestibular. Passou a frequentar cursinhos como CIPAM e Gregório Mendel. Dos seus destacados professores, chega a citar: Bernardo e Tony, da Matemática; Juarez Leitão, da História; Moacir Weyne, da Física; Hamilton Andrade, da Química; Odyr Mourão, de Português; Nonato Soares de Castro, da Biologia.


Aos doze anos, Ricardo acompanhou pelos meios de comunicação, a decretação do AI-5. Não participou ativamente das movimentações rebeldes de repulsa ao famoso Ato Institucional, aconselhado pelo major Amauri, do Colégio Militar e que depois se tornou seu colega no magistério universitário. Por esse tempo também nosso memorialista começou a curtir os hits das músicas internacionais dos: ABBA, Creedence, Village People, Pink Floyd, Bee Gees e Queen. Daí foi um pulo para chegar às tertúlias com luz negra e aos bailes de término de curso. Bebida, muito pouca, na base da Cuba Libre, Run Montila com Coca-cola. Assim, Ricardo, como os jovens da época, ia curtindo de forma saudável os divertimentos daquele tempo.


Chegou ainda mais forte a hora da responsabilidade. Vocacionado para as ciências exatas o garoto ainda imberbe se submete ao vestibular para Engenharia Civil na UFC e consegue se classificar em terceiro lugar. Mesmo dedicadíssimo aos estudos, amiudou suas idas com os amigos ao bar do Zé Augusto, no Alagadiço, à boate Boing Boing e ao Barbras. Assim concluiu o curso com muita distinção o que o levou a fazer o mestrado no Rio de Janeiro. Com o diploma de mestre debaixo do braço, apresentou-se na recém fundada Unifor em que encontrou o ex-professor Costinha já dirigindo o Centro de Ciências Tecnológicas naquela universidade. Voltou para casa como professor universitário. Era agosto de 1980.


Ricardo Brígido valorizava muitíssimo suas conquistas. Amou muito o magistério da Unifor. Cita no livro seus colegas de trabalho: Maranhão, Emília, Clóvis, Nise, Hipérides Macedo, Franklin, Wandemberg, Francisco Rosas, Ciarline Teixeira e Almeida Junior. Passou 39 anos como professor da Universidade de Fortaleza. Nesse período, cita com muito carinho seus chefes Costinha, Fernando Monteiro, Nise Sanford, Carlos Batista e o Chanceler Aírton Queiroz. Com sua turma de colegas do magistério, frequentava às vezes o restaurante bar Belas Artes, do Oswaldo Azim. Ali ia com Ariosto Holanda, Augusto Armando, Manoel Veras, Nelson Chaves e Hipérides Macedo.


Em 1983 Ricardo casou-se com a odontóloga Walda Viana, depois professora na Universidade Federal do Ceará. Assim como a esposa que trabalhava como dentista no consultório e como professora Universitária, Ricardo também enfrentou dois empregos. Fez concurso para o Banco Central e foi aprovado, trabalhando naquela instituição financeira até se aposentar. Assim, o casal passou a possuir quatro empregos o que proporcionou-lhes ao longo dos anos uma vida financeiramente tranquila. Daí as viagens à Europa em busca de raízes familiares e em especial à Inglaterra para conhecer o mundo dos Beatles dos quais Ricardo foi sempre fervoroso fã.


Ao término da leitura desse livro Menino da vila, o leitor se sente confortável em ver uma vida que deu certo. Ricardo, na sua simplicidade, galgou os degraus do sucesso como desejava. Hoje com a família estruturada, de bem com sua musa e amada Walda, vê os filhos seguindo as trilhas do seu exemplo. Depois escreve 277 páginas de sua história de vida que agrada a qualquer leitor. Além do mais sua trajetória serve de exemplo para muitos que também têm origem simples como a sua, mas que podem dar a volta por cima e vencer. A saga de Ricardo Brígido é um ensinamento para todos nós.




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